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ImprimirO ex-deputado federal e secretário de Obras de Mato Grosso do Sul, Edson Giroto (PR), reclamou do amigo, ex-governador André Puccinelli (PMDB), para outro amigo, o empreiteiro João Amorim. A conversa foi gravada pela Polícia Federal durante investigação da Operação Lama Asfáltica.
Na época Giroto minimizou, mas agora é possível perceber que ele não gostou nem um pouco de ter sido traído pelo amigo, que indicou o deputado estadual Antônio Carlos Arroyo (PR) para o Tribunal de Contas do Estado (TCE).
A gravação foi feita no dia 28 de novembro, quando Giroto contou para Amorim que se afastaria da secretaria. “A hora que ele botar o Arroyo e aprovar o Arroyo, no mesmo dia eu vou no gabinete dele com a demissão e peço a demissão”, avisou.
Amorim se mostra preocupado e pede calma para o então deputado. “Fica frio bicho. O mundo não acaba. As vezes as coisas não saem como a gente quer. Mas, o mundo não acaba e tamo ai doutor, como eu sempre tive (sic)”, diz o empreiteiro. Giroto responde: “É, nós vamos estar juntos”, finalizou.
A polícia destaca o uso da organização para buscar um novo cargo para Giroto. No entendimento da Polícia Federal, o telefonema deixa claro a relação de “toma-lá-da-cá de Giroto e Amorim, que funcionava, de acordo com a Polícia Federal, da seguinte forma.
“Giroto, na função de secretário, dava condições para o desvio de recursos, através de contratos da Agesul com a Proteco, enquanto Amorim retornava vantagens a Giroto, com a cedência de seu jato para viagens dele e pelo uso da organização criminosa de Amorim para se buscar um novo cargo de poder para Giroto e, ao que tudo indica, entregar propinas em dinheiro ”.
No inquérito a polícia destaca várias conversas entre Giroto e Amorim. Em uma delas o então secretário fala de um bandido e combina encontro com Amorim, com participação de servidores da Agesul.
Giroto: “oi (sic)”.
Amorim: “Sim, senhor (sic)”.
Giroto: “O bandido saiu daqui agora tá. Então eu já to indo ai e vou levar a Wilma (diretora da secretaria de Obras, Maria Wilma Casanova, e o Hélio (fiscal da Agesul, Hélio Yudi), tá (sic)?”
Amorim: “Aqui (sic)?”
Giroto: “É (sic)”
Amorim: “To te esperando (sic)”
Giroto: “Ou ai? (sic)”
Amorim: “Melhor aqui então, porque ai nós já matamos este troço que eu estou apavorado bicho (sic)”.
Pelas coordenadas do celular, a polícia pode identificar que Amorim estava falando do escritório da Proteco Construções Ltda., que mantinha diversos contratos com o governo de Mato Grosso do Sul, na gestão de André Puccinelli.
No entendimento da Polícia Federal, Amorim comandava a organização e seu conglomerado de empresas, como a Proteco Construções Ltda., Solurb e LD Engenharia. Já o ex-deputado Edson Giroto é descrito como alguém de forte ligação com Amorim e responsável por obrigar a Egelt, por exemplo, a entregar a obra do Aquário do Pantanal para a Proteco Construções Ltda. Eles também destacam as várias viagens do deputado no avião de Amorim, o que configura, segundo a polícia, vantagem indevida.
O delegado Marcos André Araújo e o Ministério Público Federal chegaram a pedir a prisão temporária de André Puccinelli, Edson Giroto, Maria Wilma Casanova, Hélio Yudi, Marcos Puga, Beto Mariano, Edmir Fonseca, Márcia Alvares, Newton Stefano e André Luiz Cance, bem como a preventiva de João Amorim, Elza de Araújo e Rômulo Menossi, mas o juiz Dalton Igor Kita não autorizou.
Durante a Operação Lama Asfáltica a Polícia Federal recolheu diversos contratos da Proteco Construções Ltda. com o governo do Estado e fez busca e apreensão na Agesul, na residência e escritório de Amorim e nas residências de Beto Mariano, Edson Giroto, Elza Araújo, Hélio Yudi, Marcos Puga, Maria Wilma, Rômulo Tadeu e Marcia Cerqueira. Na próxima fase a polícia quer saber se outros contratos também apresentaram desvio de verba. Na primeira fase, três contratos foram analisados e, dos R$ 45 milhões, foram constatados R$ 11 milhões de desvio.