G1/PCS
ImprimirA candidata derrotada do MDB à Presidência, Simone Tebet, anunciou nesta quarta-feira (5) apoio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no segundo turno da eleição presidencial.
Em pronunciamento, Simone afirmou que:
tem críticas a Lula, mas reconhece no petista 'compromisso com a democracia';
amigos pediram a ela 'neutralidade', mas que decidiu não se omitir;
espera que a campanha do petista incorpore ao menos cinco propostas que ela apresentou, entre as quais a de composição de um ministério "plural" e a poupança para jovens que concluírem o ensino médio;
estará nas ruas até dia 30 de outubro e que faz preces por uma 'campanha de paz'.
O anúncio de apoio a Lula foi feito em um hotel em São Paulo. Simone Tebet ficou em terceiro lugar na votação realizada no último domingo (2). A emedebista recebeu 4,9 milhões de votos (4,16%).
*"Ainda que mantenha as críticas que fiz ao candidato Luiz Inácio Lula da Silva, em especial nos seus últimos dias de campanha quando cometeu o erro de chamar para si o voto útil, que é legítimo, mas sem apresentar as suas propostas completas, depositarei nele o meu voto porque reconheço nele o seu compromisso com a democracia e com a Constituição, o que desconheço no atual presidente. Meu apoio não será por adesão. Meu apoio é por um Brasil que sonho ser de todos", afirmou Simone Tebet.*
Lula, que tenta voltar ao poder, vai enfrentar o atual presidente Jair Bolsonaro (PL) na votação marcada para o próximo dia 30. No primeiro turno, Lula ficou à frente de Bolsonaro. O candidato do PT recebeu 57,2 milhões (48,43%) enquanto o presidenciável do PL teve 51 milhões de votos (43,20%).
'Muito feliz', diz Lula
Em encontro com governadores e senadores atuais e eleitos, o ex-presidente Lula disse ter ficado “muito feliz” com o anúncio de Tebet. Ele ainda classificou o manifesto apresentado pela senadora como “bom”.
*“Fiquei muito feliz com o apoio do PDT, a companheira Simone acaba de lançar o manifesto dela. Um manifesto bom, um manifesto que faz as críticas que ela fez durante a campanha. Um manifesto que apresenta cinco propostas para ser colocadas no programa de governo. Eu acho muito importante que seja assim. Não é um apoio formal, é um apoio programático, e ela quer continuar na rua defendendo as coisas dela”, disse.*
As declarações foram dadas em um evento de Lula com políticos que o apoiam na campanha. Na mesa, estava o governador reeleito do Pará, Helder Barbalho (MDB), membro da ala do partido simpática à candidatura de Lula desde o primeiro turno.
MDB liberou filiados
Mais cedo, nesta quarta, o MDB – partido pelo qual Simone é senadora – anunciou a decisão de liberar seus filiados a se manifestarem "conforme suas consciências", ou seja, permitindo apoio a Lula, Bolsonaro ou neutralidade.
No pronunciamento, Tebet disse esperar que cinco propostas do plano de governo emedebista sejam encampadas pela campanha petista. Segundo ela, as ideias foram apresentadas a Lula durante almoço nesta quarta. “Cabe, agora, a eles a palavra em relação a esses pedidos feitos”, disse.
A senadora afirmou ter pedido ao candidato do PT a inclusão de propostas que pretendem:
zerar a fila de vagas em creches e escolas para crianças;
a implementação do ensino médio técnico em tempo integral;
o pagamento de R$ 5 mil para formandos do ensino médio;
zerar a fila de procedimentos na saúde e aumentar repasses ao Sistema Único de Saúde;
a igualdade de salário entre homens e mulheres e a composição ministerial plural.
“Meu apoio é por projetos que defendo e ideias que espero ver acolhidas. Dentre tantas que julgo importante, destaco cinco tendo sempre a responsabilidade fiscal, uma âncora fiscal, como meio de se alcançar o social”, disse.
A parlamentar declarou também que estará nas ruas durante o segundo turno. "Até 30 de outubro, eu estarei na rua, vigilante. Meu grito será pela defesa da democracia e da justiça social. Minhas preces por uma campanha de paz", disse.
Ela se desculpou com "amigos e companheiros" que pediram a ela que adotasse uma posição de neutralidade no segundo turno, mas afirmou que se omitir seria "trair" sua trajetória de vida pública.
*"Peço desculpas aos amigos e companheiros que imploraram pela neutralidade neste segundo turno, preocupados que estão com a eventual perda de algum capital político, para dizer que o que está em jogo é muito maior que cada um de nós. Votarei com minha razão de democrata e com minha consciência de brasileira. E a minha consciência me diz que, neste momento tão grave da nossa história, omitir-me seria trair minha trajetória de vida pública", afirmou.*
"Não anularei meu voto, não votarei em branco. Não cabe a omissão da neutralidade", acrescentou.
A emedebista disse também que, nos últimos quatro anos de governo Bolsonaro, o país "foi abandonado na fogueira do ódio e das desavenças". E lembrou o atraso na compra de vacinas contra a Covid-19.
*"A negação atrasou a vacina. A arma ocupou o lugar do livro. A iniquidade fez curvar a esperança. A mentira feriu a verdade. O ouvido conciliador deu lugar à voz esbravejada. O conceito de humanidade foi substituído pelo de desamor. O Brasil voltou ao mapa da fome. O orçamento, antes público, necessário para servir ao povo, tornou-se secreto e privado", declarou.*
Simone Tebet também disse que o apoio que dá ao candidato do PT não é "por adesão", mas "por um Brasil inclusivo, generoso, sem fome e sem miséria, com educação e saúde de qualidade, com desenvolvimento sustentável. Um Brasil com reformas estruturantes, que respeite a livre inciativa, o agronegócio e o meio ambiente, com comida mais barata, emprego e renda".
Aliança
Simone Tebet e Lula selaram a aliança contra Bolsonaro em um almoço nesta quarta-feira em São Paulo, na casa da ex-senadora Marta Suplicy, que já teve passagens por PT e MDB.
Antes, a emedebista se encontrou com Geraldo Alckmin (PSB), candidato a vice na chapa encabeçada por Lula. Os dois tiraram uma foto segurando o plano de governo de Tebet.
Em fevereiro, antes mesmo de ser oficializada candidata pelo MDB, a parlamentar do Mato Grosso do Sul já havia dito, em entrevista, que em um eventual segundo turno entre Lula e Bolsonaro – que já lideravam as pesquisas de intenção de voto – o candidato do PL não teria o seu voto.
Campanha
Simone Tebet começou a campanha eleitoral em quarto lugar nas pesquisas de intenção de voto. O Ipec, por exemplo, mostrava a emedebista com 2% em agosto.
A candidatura dela foi resultado de uma aliança entre MDB, PSDB e Cidadania. O Podemos anunciou apoio posteriormente.
As siglas de centro tentaram apresentar a parlamentar como o nome da terceira via, uma alternativa à polarização entre o ex-presidente Lula e o presidente Jair Bolsonaro – líderes nos levantamentos.
Com o início da propaganda eleitoral, a participação em sabatinas, atos de campanha, e o bom desempenho nos debates na TV, a emedebista saltou de 2% para 5%, empatando com Ciro Gomes nas pesquisas. No primeiro turno, ela superou o pedetista.
Durante a campanha, Simone Tebet disse que, se fosse eleita, daria transparência ao chamado "orçamento secreto", tiraria despesas com ciência e tecnologia do teto de gastos, e criaria um programa para pagar bolsas de R$ 5 mil para estudantes que concluíssem o ensino médio.
Trajetória
Senadora eleita em 2014, Simone Tebet tem 52 anos e disputou sua primeira eleição presidencial. É natural de Três Lagoas (MS) e filha de um tradicional político do estado, Ramez Tebet, que morreu em 2006.
Formada em Direito, fez carreira como professora. Entrou para a política em 2002, quando foi eleita deputada estadual. Também foi prefeita de Três Lagoas e vice-governadora do Mato Grosso do Sul. No Senado, ganhou projeção nacional com participação na CPI da Covid.