O Globo/LD
ImprimirNo dia em que o governo foi notificado sobre a denúncia de Rodrigo Janot, o Palácio do Planalto traçou como estratégia adotar o chamado rolo compressor no Congresso com a intenção de demonstrar força política na Casa que vai decidir o futuro de Michel Temer. Segundo interlocutores, o governo atuará em três frentes para mobilizar a base aliada: aprovar em regime de urgência a reforma trabalhista no Senado, obter rapidamente o aval ao nome de Raquel Dodge para a Procuradoria-Geral da República e, paralelamente, acelerar na Câmara a tramitação da denúncia do Ministério Público contra o presidente.
No que diz respeito à tramitação da denúncia, Temer já avisou que não quer usar o prazo máximo de dez sessões para apresentar sua defesa na CCJ. A ideia é utilizar de três a quatro. Aliados dizem que há votos na base para barrar a acusação de Janot, e os mais otimistas falam em mais de 250 apoios no plenário.
Nas conversas com aliados, o presidente tem sido aconselhado a conversar com todos os deputados, até de oposição. Em solenidade no Planalto para comemorar um ano de vigência da lei de responsabilidade das estatais, Temer disse que o governo e o país não vão parar, e cobrou “responsabilidade”:
— Não podemos deixar que nada impeça essa respiração extraordinária que o país está tendo. Nosso rumo, meus amigos, está lá. Nós seguiremos adiante. Tenho absoluta convicção de que todos os brasileiros o querem e, querendo, todos os agentes estatais também farão isso pelo Brasil — discursou Temer, completando: — Hoje nós vivemos tempos que exigem responsabilidade. A falta de responsabilidade destrói empresas, corrói instituições. Verifico que há uma tentação para o aplauso fácil, sem responsabilidade. Isso deve ser vencido em todos os domínios da vida pública — disse Temer.
O peemedebista sustentou que sua gestão frustrou interesses de poderosos e impediu crimes no setor público. Ele é o primeiro presidente na História do Brasil a ser denunciado no exercício do mandato por crime cometido durante o governo.
— Nós frustramos interesses de gente poderosa. Pude verificar logo em seguida (da sanção da Lei das Estatais) a frustração de gente que se servia da atividade de empresas públicas para objetos não lícitos.
EM BUSCA DE APOIO
Seguindo a estratégia de fazer uma ofensiva sobre deputados para se salvar na Câmara, Temer almoçou na quinta-feira na casa do deputado Heráclito Fortes (PSB-PI), um gesto na direção do PSB, partido que é declaradamente de oposição ao governo.
No início da madrugada de ontem, logo após a aprovação da reforma trabalhista no Senado, o clima entre ministros do Palácio do Planalto era de comemoração. Ontem, logo após a denúncia chegar ao Palácio do Planalto, o ministro da Secretaria de Governo, Antonio Imbassahy, disse que o caso não vai parar o governo. Imbassahy elogiou o Congresso pela manutenção da pauta. Contudo, a reforma da Previdência, carro-chefe do governo, está há quase dois meses paralisada na Câmara, pronta para ir ao plenário.