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ImprimirO físico britânico Tim Berners-Lee, que idealizou e inventou a World Wide Web (WWW) lança um apelo para combater o uso indevido de dados pessoais e as notícias falsas que circulam pela internet.
Em uma carta para marcar os 28 anos da invenção da web, ele se disse preocupado sobre a forma como a ferramenta vem sendo usada e afirmou que essas práticas "têm um efeito assustador sobre a liberdade de expressão".
Segundo Berners-Lee, algumas tendências específicas na rede causam preocupação: "nós perdemos o controle sobre nossos dados pessoais, é muito fácil difundir desinformação na web e a propaganda política precisa de transparência".
Ele disse que pretende trabalhar com empresas e usuários para encontrar soluções práticas para que web continue sendo uma ferramenta que "dê igual poder e oportunidade a todos"
Acesso aos dados pessoais
Na carta, Berners-Lee afirma que as empresas precisam colocar "um nível justo de controle de dados de volta nas mãos das pessoas". Segundo ele, muitas vezes as pessoas não conseguem informar que dados pessoais elas gostariam ou não de compartilhar.
"Quando nossos dados são armazenados em espaços particulares, longe de nosso alcance, perdemos as benesses que poderíamos ter caso tivéssemos controle direto sobre os dados e escolhêssemos quando e com quem gostaríamos de compartilhá-los. Além disso, muitas vezes não temos meios de contatar as empresas sobre os dados que não queremos compartilhar - especialmente com terceiros. Os termos e as condições de uso normalmente são tudo ou nada", escreveu.
O documento também sugere que a coleta de dados pessoais vem favorecendo o monitoramento e vigilância de todas as ações dos usuários - uma prática que, segundo ele, é preocupante.
"Há um efeito inibidor na liberdade de expressão que impede que a web seja usada como um espaço para lidar com assuntos relevantes, como questões de saúde, sexualidade ou religião", disse.
"A coleta disseminada de dados por empresas também apresenta outros impactos. Em colaboração - ou coerção - com empresas, os governos passaram a observar todos os nossos movimentos online, e aprovaram leis extremas que atropelam nossos direitos à privacidade. Mas, mesmo nos países em que acreditamos que os governos trabalham em prol de seus cidadãos, vigiar todas as pessoas o tempo todo está indo longe demais".
Notícias falsas
Outro tema considerado um desafio pelo criador da web é a facilidade com que as notícias falsas são propagadas na rede. Para Berners-Lee, o hábito de se informar pela internet e a ferramenta dos algoritmos acabaram favorecendo a desinformação, já que colhem os dados dos usuários para continuar oferecendo conteúdo similar que pode gerar interesse - e cliques.
"O resultado é que esses sites nos mostram conteúdo que acreditam que nós vamos querer clicar - o que significa que desinformação ou "notícias falsas" (as chamadas fake news), que têm títulos surpreendentes, chocantes, criados para apelar aos nossos preconceitos, podem se espalhar como fogo".
Segundo ele, é preciso incentivar portais grandes como o Google e o Facebook a se comprometerem a combater o problema. No entanto, os órgãos centrais que decidem o que é verdadeiro ou não devem ser evitados, acrescentou.
Propaganda política 'antiética'
O criador da World Wide Web também destacou o que considera a "sofisticada indústria" da propaganda política online.
Berners-Lee destaca uma fonte que sugere que somente nas eleições de 2016 nos Estados Unidos, mais de 50 mil variações de anúncios envolvendo a campanha política foram lançadas diariamente no Facebook - uma ação "impossível de se monitorar".
"E suspeita-se que alguns anúncios políticos - nos Estados Unidos e pelo mundo - estão sendo usados de maneira antiética para conduzir eleitores para sites de notícias falsas, por exemplo, ou para manter pessoas longe das pesquisas eleitorais. Anúncios direcionados permitem que uma mesma campanha lance informações diferentes e possivelmente contraditórias para grupos diferentes. Isso é democrático?", questiona.
Apesar de apresentar essas questões e cobrar mais comprometimento para que esses desafios sejam superados, Berners-Lee admite que as "soluções não serão simples" e precisarão contar com a colaboração de usuários e empresas.