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Tecnologia
18/09/2015 06:02:00
Próximo Facebook sairá do Brasil, diz executivo do Evernote

Exame/PCS

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Luís Samra, gerente-geral do Evernote para a América Latina: o Brasil é o país onde o aplicativo mais cresce (Foto: Divulgação)

Como quase toda startup, o Evernote teve um início atribulado, com pouco dinheiro e muito trabalho. "No começo, nosso CEO fazia de tudo um pouco", conta Luís Samra, gerente-geral da empresa para a América Latina. Hoje a empresa tem mais de 350 funcionários.

Resultado da união entre russos especializados em tecnologia e americanos da área de marketing, a empresa nasceu em 2007, no solo fértil do Vale do Silício, nos Estados Unidos. O desafio proposto era organizar a grande quantidade de informação que uma pessoa recebe todos os dias, usando texto, áudio, imagens e o que mais for preciso para reter dados, imitando o cérebro humano.

Além do trabalho duro, uma série de investimentos ajudou a companhia a se projetar em diversos mercados. Hoje, a startup já conta com um acervo de 170 milhões de notas e 150 milhões de usuários espalhados pelo mundo. ADVERTISEMENT

Em entrevista a EXAME.com, Luís Samra dá dicas para startups que estejam começando e fala sobre a importância de um ambiente como o do Vale do Silício para negócios invadores. O gerente do Evernote para a América Latina explica ainda as estratégias da empresa para ganhar o mercado brasileiro, que tem hoje o maior crescimento para a companhia.

Veja os principais trechos da entrevista:

EXAME.com — O quão importante é estar no Vale do Silício para o Evernote e para as startups em geral?

Luís Samra — Apesar de estarmos no Vale do Silício, o mercado onde o Evernote cresce de forma mais rápida é o Brasil — o que é muito, muito interessante. Estamos no Vale porque o conjunto de talentos está aqui, de pessoas que fazem as coisas acontecerem e de forma rápida. Mas, em termos de quais mercados nos fazem crescer mais, são os internacionais. Hoje, 70% do crescimento do Evernote é de fora dos Estados Unidos. Estamos crescendo muito mais rápido fora, e o Brasil é nosso primeiro lugar em velocidade de crescimento, comparando todos os mercados ao redor do mundo.

No Vale, há pessoas com experiência em startups, e que podem fazer as coisas funcionarem mais rápido para você, caso você as encontre. Se você tiver pessoas que nunca trabalharam em solucionar um problema, elas irão resolver também, mas isso irá levar mais tempo. Quando você tem centenas, milhares ou milhões de pessoas da mesma área e trabalhando para resolver um problema, elas aceleram a companhia e fazem com que ela consiga construir coisas mais rápido.

EXAME.com — Como uma startup brasileira pode fazer parte da cultura do Vale? Elas precisam ir para lá ou há alguma iniciativa similar no Brasil?

Luís Samra — É algo que discutimos muito por aqui. Eu, pessoalmente, acredito que as startups brasileiras não precisam ir ao Vale do Silício para fazer parte disso tudo. O mundo mudou completamente em questões como de que forma e onde algo pode ser vendido. Há lojas de aplicativos em todo lugar. O que você realmente precisa é um ótimo produto, e isso pode ser inventado em qualquer local do planeta. Aliás, o Brasil tem algumas particularidades, como a densidade, o tamanho e o trânsito de São Paulo, por exemplo. Nós sabemos que empreendedores brilhantes não estão meramente focando em criar companhias para solucionar um problema, mas também levando o empreendimento para os lugares onde esses problemas precisam ser resolvidos. Esses problemas de São Paulo são inclusive globais e se aplicam para China, Nova York e Singapura — ou seja, lugares com megacidades. É nisso que as startups precisam focar. Eu acredito fortemente que a próxima companhia como o Facebook sairá do Brasil. E em breve, espero.

EXAME.com — O que é mais importante em uma startup?

Luís Samra — Ter transparência com seus funcionários. A companhia precisa ser bem honesta sobre onde ela se encontra no momento. E a hierarquia não deve existir em uma pequena startup: todos devem estar no mesmo nível, ter o mesmo tipo de escritório... Tudo deve ser muito democrático.

EXAME.com — E como uma startup pode manter essa cultura de trabalho mais horizontal?

Luís Samra — Vou contar um bom exemplo na nossa própria empresa. Nós temos entre 350 e 375 funcionários no Evernote, e toda semana o CEO junta a equipe por uma hora e informa o estado da companhia. Se estamos indo bem ou se estamos indo mal, todos nós sabemos. A equipe contribui com ideias para tornar as coisas melhores ou então para fazê-las crescer. Ninguém diz "ah, só alguns têm essa informação". Todos os funcionários sabem do que acontece e, enquanto crescemos, continuamos a desenvolver essa cultura. Estamos nos comunicando para que seja mais fácil falar entre si dentro da companhia. Isso nunca deve parar.

EXAME.com — Qual a estratégia que o Evernote adota para se expandir na América Latina?

Luís Samra — Estamos na América Latina há quatro anos, começando no México em 2011 e depois no Brasil. Com o número de usuários que temos hoje no país — pense em torno de seis milhões de pessoas usando o Evernote —, estamos muito felizes. Trabalhamos em convencer o maior número de pessoas a mudar sua forma de trabalho por meio do nosso produto. Na América Latina, são 60 milhões de usuários hoje. Para fazermos um produto que é bem aceito no Brasil, também sabemos que pode haver alguém do local que crie um produto com mesmo grau de aceitação, mas feito por brasileiros e pensado para esse mercado, por exemplo. Por isso, não podemos ser apenas uma empresa de fora que cria produtos e vai ao país para dominar o mercado; os empreendedores e investidores têm de encorajar o pensamento de solucionar problemas locais. Eles são grandes, e não pequenos.

EXAME.com — E você acha que esse é o maior desafio que o Evernote enfrenta no Brasil?

Luís Samra — Bom, nós estamos tentando fazer de tudo. Estamos muito perto do mercado – por exemplo, há alguns meses mudamos nossos preços no país, para um ponto que achamos que seria mais aceito pelos brasileiros. Nós não queríamos ser um serviço mais caro, por causa da situação econômica no país. Queríamos também estar ao lado das pessoas e ajudá-las a usar essa ferramenta para planejar seu próximo passo, nesse contexto. Nós vemos que é quando há problemas econômicos difíceis nos Estados Unidos que as melhores empresas aparecem. Queremos dar a essas pessoas acesso a nossas ferramentas e tudo mais que pudermos oferecer, com o ajuste à realidade desse mercado, e não estando fora dessa realidade. Eu acho que um desafio que nós temos – não só no Brasil, mas na América Latina – é oferecer suporte e estar próximo ao mercado: entender o que ele precisa para oferecer o produto certo e ajudá-lo a usar corretamente o produto.

EXAME.com — Que conselho você daria a uma startup brasileira que busca ter uma presença global, como a do Evernote?

Luís Samra — O maior desafio que qualquer companhia enfrenta é o de focar. Pode haver 100 problemas dentro de uma empresa, mas no momento ela só pode solucionar uns dois. Ou seja: não tente resolver todos os problemas, foque um de cada vez e chegue ao centésimo problema ao solucionar um, dois, três, quatro, cinco... Aprenda a priorizar. Digamos que você tenha uma lista com os cem problemas, e existam os problemas número um e dez. O problema número dez é muito importante, mas você não consegue chegar a ele porque ainda precisa solucionar os problemas de antes. Você precisa fazer um bom trabalho, mas priorize. Nunca tente encarar esses dez problemas ao mesmo tempo, porque você irá falhar. Isso é certeza.

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