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ImprimirO governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL) encarou nesta quarta-feira pela primeira vez as manifestações populares quando milhares de pessoas foram às ruas de cerca de 200 cidades de todos os estados e do Distrito Federal protestar contra os cortes no MEC (Ministério da Educação). De Dallas, no Estados Unidos, para onde viajou para receber prêmio de “Personalidade do Ano”, Bolsonaro classificou os atos como “naturais” e chamou os manifestantes – a maior parte estudantes – de “idiotas úteis”, que servem de “massa de manobra” para militantes.
Motivado, segundo o governo pela necessidade de se reduzir despesas, o bloqueio de verbas no MEC é de R$ 7,4 bilhões e vai afetar políticas públicas do ensino básico ao superior, além de bolsas de pesquisa e educação.
Os protestos reuniram universitários e secundaristas de todo o país, além de professores e funcionários da educação e outras categorias, que ocuparam as ruas em passeatas e interromperam as atividades em faculdades e escolas – públicas e privadas.
Os eventos foram convocados pela UNE (União Nacional dos Estudantes) e outras entidades estudantis, e engrossado por sindicatos e centrais sindicais, que já haviam programado para ontem atos pelo país contra a reforma da Previdência.
As manifestações tiveram início nas primeiras horas da manhã e foram até a noite, sem registro de graves incidentes, além de ônibus incendiados no Rio de Janeiro.
Nos cartazes e nas palavras de ordem, predominaram os dizeres de que “educação é investimento, não gasto” e as ironias com a palavra “balbúrdia”, usada em entrevista pelo ministro da Educação, Abraham Weintraub, para definir parte das universidade do país.
Para a UNE, as declarações do ministro sobre o ambiente universitário, a suspensão de bolsas e o bloqueio dos recursos são “partes do mesmo pacote de desmonte da educação brasileira”. A entidade convocou a próxima manifestação para 30 de maio, na última quinta-feira do mês.
Grupo foi do Masp à Alesp
Em São Paulo, os manifestantes se concentraram no vão do Masp, na avenida Paulista (centro), por volta das 14h, e seguiram em caminhada para a Assembleia Legislativa (zona sul), onde começaram a chegar por volta das 19h. A manifestação foi pacífica. Universitários de diversas instituições públicas e privadas da capital e do interior estiveram presentes, assim como representantes de centrais sindicais e de partidos políticos.
O ex-prefeito Fernando Haddad (PT) se uniu ao grupo e afirmou: “Nós vamos educar o Bolsonaro”. Estudantes secundaristas também estiveram presentes no ato, marcado por críticas ao presidente e ao ministro. “Fora Bolsonaro” e “balbúrdia é o governo” foram algumas das frases proferidas pelos manifestantes, que pediam por “livro sim, arma não”. Protestos também foram registrados em diversas cidades do interior.
‘Não somos responsáveis pelo desastre da educação’
Convocado pelos deputados para explicar o contigenciamento de verbas, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, afirmou ontem em audiência na Câmara que o bloqueio dos recursos é culpa dos governos passados e bateu-boca com parlamentares.
“Não somos responsáveis pelo contingenciamento atual, o Orçamento atual foi feito pelo governo eleito de Dilma Rousseff (PT) e de Michel Temer (MDB), que era vice. Nós não votamos neles. Não somos responsáveis pelo desastre da educação”, afirmou o ministro, que classificou a trajetória da educação brasileira nos últimos anos como “involução”.
O ministro confirmou que falou anteontem com Bolsonaro ao telefone, mas disse que a informação de que se decidiu na conversa que o contigenciamento seria cancelado – como anunciado por líderes parlamentares que estavam com o presidente – foi um “mal entendido”.
Weintraub bateu-boca com os deputados, como quando sugeriu que eles não sabiam o que era uma Carteira de Trabalho e criticou que as pesquisas brasileiras não geram resultados. O ministro também foi vaiado e chamado de “covarde” e “convidado” a pedir demissão.
Os parlamentares da oposição travaram duelo ideológico com o ministro, sugerindo que suas políticas tinham objetivo de censurar a liberdade. Os governistas defenderam que o Weintraub fez exposição técnica sobre os erros das políticas de educação dos governos passados.