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ImprimirCom a grande disseminação de notícias falsas, o combate à desinformação deve ser uma das principais bandeiras da Justiça, destacou o presidente do Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso do Sul (TRE-MS), desembargador João Maria Lós.
A pandemia de coronavírus (Covid-19), além de alterar o calendário eleitoral, mudou o comportamento dos pré-candidatos, que devem evitar o contato físico e utilizar mais a internet para angariar votos.
“Uma das grandes bandeiras da Justiça Eleitoral nas eleições vindouras, sob a orientação do Tribunal Superior Eleitoral [TSE], é o combate à desinformação por meio de campanhas e ações de esclarecimento aos eleitores na televisão, rádio, jornais e redes sociais, de realização de seminários e, agora em período de pandemia, de lives envolvendo especialistas, bem como colaboração de agências de checagem de conteúdos, do apoio da imprensa, alertando para os riscos da desinformação, além do apoio de toda a sociedade, clamando pelo compartilhamento consciente e responsável de mensagens nas redes sociais”.
De acordo com o presidente, o TSE tem trabalhado desde 2019 para combater as chamadas fake news e criou programas on-line com informação para a população.
“O TSE realizou o Seminário Internacional Fake News e Eleições, com o apoio da União Europeia, para debater as implicações da disseminação de notícias falsas e seus efeitos no processo eleitoral e na sociedade. E disponibilizou uma série de vídeos em seu canal no YouTube intitulada ‘(Des)Informação e Eleições’, com depoimentos de especialistas que participaram desse seminário”.
O desembargador ressaltou ainda que além das atividades promovidas pelo TSE, o TRE tem desenvolvido projetos específicos, como o evento que está sendo realizado hoje pela internet.
“O evento Democracia Digital, voltado para o combate à desinformação, em parceria com a Agência Lupa, Instituto Tecnologia e Equidade [ITamp;amp;E] e Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral [MCCE], com o debate ‘Como o combate à epidemia da desinformação sobre o novo coronavírus pode nos ajudar na preparação para as próximas eleições municipais?’, que terá a participação de magistrados e advogados”.
Mestra em Ciência da Informação, a jornalista e professora universitária Inara Silva destacou que o movimento de desinformação ganhou força em 2016, na campanha presidencial dos Estados Unidos da América (EUA) – que tinha como candidatos Donald Trump e Hillary Clinton, sendo Trump o eleito – e durante a votação do Brexit no Reino Unido.
No Brasil, teve destaque na campanha eleitoral de 2018, quando Jair Bolsonaro foi escolhido pela maioria dos eleitores.
“Esse dois eventos [mundiais] foram fenômenos de desinformação. O que seria desinformação? São as informações falsas que são divulgadas, principalmente na internet, para beneficiar alguém ou prejudicar alguém, então está muito nesta esfera política. No meio de toda a desinformação surgiu a divisão política dentro de grupos sociais, então polarizou muito. Ela é para política e para outros assuntos, como vemos correntes que desqualificam a pandemia e outras não”, explica.
Além de assuntos políticos, a professora ressaltou que vertentes desse movimento focaram em descredibilizar a imprensa tradicional.
“Eles passaram a trabalhar como se fossem uma mídia alternativa e com status de informação verdadeira e esse trabalho de desqualificação do jornalismo foi muito forte, inclusive a gente sofreu na pele: vários sofreram agressões, intimidações”.
A mestra reforça ainda que, com o movimento da desinformação, a imprensa tradicional se uniu e agências de checagem surgiram em todo mundo.
“Aqui no Brasil a gente tem Lupa, a Aos Fatos, tem uma séria de agências que trabalham para combater as fake news”.
Inara ressaltou que o momento que estamos vivendo é chamado de pós-verdade.
“Quando a opinião tem mais valor que o fato objetivo. Quando a opinião e a crença tem mais valor que um fato objetivo”.