MMN/PCS
ImprimirA Delegacia Geral da Polícia Civil repassou as investigações sobre a apreensão das máquinas de jogo do bicho, realizada pelo Garras (Delegacia Especializada Repressão a Roubos a Banco, Assaltos e Sequestros), no último dia 16, para o Dracco (Departamento de Repressão à Corrupção e ao Crime Organizado), chefiado pela delegada Ana Cláudia Medina.
A informação foi divulgada pela Polícia Civil nesta terça-feira (24). O inquérito ficará à cargo da Decco (Delegacia de Combate ao Crime Organizado), que tem como titular o delegado Alexandro Mendes de Araújo.
Em nota, a Polícia Civil informa ainda que o titular do Garras, Fábio Peró, entregou o relatório sobre o flagrante dentro do prazo de cinco dias, para a Delegacia Geral.
Vácuo de poder após Omertà e briga entre delegados
Com as 700 máquinas do jogo do bicho, os policiais do Garras (Delegacia de Repressão a Roubo a Banco, Assalto e Sequestros) flagraram dois colegas: um oficial e um praça da Polícia Militar de Mato Grosso do Sul.
Ambos aposentados, eles foram liberados no mesmo dia do flagra e negaram qualquer envolvimento com o jogo do bicho. Não é a primeira vez que a influência do crime organizado na Sejusp provoca mal-estar entre servidores que não 'entram no esquema'.
Desde que a Operação Omertà desarticulou o grupo que chefiava o jogo do bicho em Campo Grande, o vácuo de poder deixado pelo 'Gato Preto' passou a ser alvo de disputa. Operadores da jogatina passaram a tocar pequenas bancas independentes que dividiram a cidade em 5 ou 6 áreas de atuação.
Segundo a denúncia, desde que a briga começou, os episódios incluiriam ameaças veladas a servidores, pressão e represália contra delegados e reuniões com políticos interessados na briga.
Em 2021, a tensão atingiu o auge com a Operação Deu Zebra, apontada por policiais como uma forma de a Polícia Civil interferir na disputa em Campo Grande e que nunca chegou sequer perto dos verdadeiro donos do jogo do bicho.
Coletores e anotadores viraram alvo de roubos com 'avisos e ameaças'
Um grupo 'de fora' de MS teria interesse em assumir e alega ter chegado a 'negociar' o controle. Além disso, outro grupo, do interior com vínculos na fronteira com o Paraguai, também teria reclamado o território campo-grandense.
Assim, nos últimos meses, anotadores e cobradores passaram a ser alvo de roubos nos trajetos de coleta das apostas e anotações de jogos. A reportagem teve acesso a um dos registros policiais que denunciam as abordagens de coletores.
Segundo os relatos, a suspeita é de que policiais cooptados para trabalhar para o crime organizado seriam os autores dos roubos e deixariam 'recados' para os donos das bancas independentes.
Quando eram roubados, os coletores eram avisados a procurarem o ‘novo dono’ ou deixar para trás a atividade.
"Eles tomaram o dinheiro e mandaram eu avisar lá que era para procurar o... você sabe... o novo aí que se anunciou como dono, se quisesse reaver a grana ou acertar para continuar trabalhando para ele", conta um dos coletores abordados.
Um dos coletores 'abordados' garante que a ação do suposto policial ligado ao grupo que quer assumir a jogatina em Campo Grande teria sido registrada em vídeo. "Tinha câmeras no local e eu peguei, mas ainda estou avaliando se entrego isso na Polícia ou direto no Gaeco, porque a gente ainda não sabe pra onde a banda vai tocar", diz.
Flagrado em depósito do jogo do bicho detido na fronteira com arma
Um homem foi preso em uma casa de festas com uma pistola durante a madrugada de quarta-feira (18), em Ponta Porã. Ele estava, na segunda-feira (16), na mesma casa onde foram apreendidas as máquinas do jogo do bicho, em Campo Grande.
No local, a PM encontrou uma mochila com um carregador de pistola Glock G17 com sete munições e atrás do fogão estava a pistola da mesma marca. Além disso, a polícia também encontrou um carregador prolongado com 12 munições.
Máquinas para modernizar jogo do bicho em Campo Grande
No depósito estourado nesta semana pela equipe do Garras, 700 máquinas e outras ainda dentro de caixas foram apreendidas. Os equipamentos seriam parte final do plano para assumir o território.
As máquinas passaram a figurar como protagonistas no lugar das antigas bancas que ficavam em calçadas de ruas da cidade, onde podia ser encontrado o apontador das apostas com facilidade para quem fazia suas apostas.
Agora o esquema de contravenção estava mais modernizado e mais fácil de ser ‘tirado’ dos olhos da polícia. A operação de apostas e impressão de bilhetes cabia na palma da mão, já que podia ser feita até por aplicativos instalados em celulares.