Veja/PCS
ImprimirO Facebook está coletando o registro de chamadas e mensagens SMS de usuários há anos. A informação começou a ser relatada por usuários nas redes sociais na semana passada, após a divulgação de que a empresa Cambrige Analytics recebeu dados pessoais de 50 milhões de pessoas.
Um dos relatos é do desenvolvedor de software Dylan McKay, que divulgou no Twitter suas informações armazenadas pelo Facebook desde 2016. Entre os arquivos estão registros de ligações, com detalhes da chamada – se ela foi atendida ou não, nome do contato e a duração da conversa. McKay comenta que a rede social possui um histórico de todos os contatos de seu celular. “Incluindo alguns que eu não tenho mais”.
Ao todo, o Facebook coletou 710 ligações de números distintos e 748 mensagens de SMS destinadas a McKay.
Qualquer usuário pode ter acesso as informações armazenadas pelo Facebook e fazer download delas. É possível solicitar os dados em “Configurações” ao entrar na rede social por um computador. Neste link, o próprio Facebook ensina o passo-a-passo.
A rede social consegue essas informações quando o usuário permite o acesso aos contatos, quando loga no bate-papo do aplicativo Messenger, ou ao baixar o aplicativo da rede social. O programa apresenta condições como “ler seus contatos”, “ler compromissos e informações confidenciais” da Agenda, “ler suas mensagens de texto (SMS ou MMS)” e “ter acesso total à rede”.
Outras pessoas contaram que seus dados pessoais estão sendo armazenados. “O arquivo do Facebook contém informação sobre cada ligação e mensagem de texto que eu fiz durante cerca de um ano”, disse o escritor Mat Johnson em um tuíte.
Johnson afirmou que a maioria dos registros foram realizados em 2017 e que o sistema operacional de seu smartphone é o Android (pertencente ao Google). Segundo o site especializado em tecnologia The Verge, ainda não há relatos de usuários do iOS (sistema operacional da Apple) que tiveram os dados coletados.
Segundo o site Ars Technica, a coleta de dados do Facebook ocorreu durante o período em que o controle sobre as permissões no Android eram menos restritas. Recentemente, o Google mudou esse processo para que fique mais claro aos usuários a quais dados os aplicativos terão acesso, mas os desenvolvedores ainda podem receber registros de ligações e SMS até que a empresa descontinue a antiga tecnologia de interface de programação de aplicativos (API).
O Facebook pronunciou-se neste domingo sobre o caso. De acordo com o site, importar contatos do dispositivo do usuário é bastante comum entre os aplicativos de mídia social e serviços. “É uma maneira de encontrar facilmente as pessoas com quem você quer se conectar”, disse a empresa em comunicado em seu site.
A rede social argumenta que o usuário tem controle total das informações compartilhadas. “Nós nunca venderemos esses dados, e esse recurso não coleta o conteúdo de suas mensagens ou ligações”, diz o texto.
Escândalo
O Facebook envolveu-se em um escândalo sobre dados de seus usuários na semana passada, após o jornal The New York Times revelar que a Cambridge Analytica, consultoria que participou da campanha de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos, obteve dados de 50 milhões de usuários. A consultoria teria usado dados da rede social para ajudar Trump a vencer a eleição em 2016. A companhia afirma não ter feito nada de ilegal.
Dois dias depois, o fundador da rede social, Mark Zuckerberg, admitiu que a rede social errou e se desculpou.
“Temos a responsabilidade de proteger seus dados, se não pudermos, não merecemos servi-los”, escreveu Mark Zuckerberg na primeira reação pública desde que o escândalo veio à tona.
No último domingo, a rede social publicou anúncios em jornais britânicos e norte-americanos para pedir desculpas aos usuários.