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Coxim
08/03/2017 08:34:00
Mulher com “M” maiúsculo, Aline divide espaço com urubus em busca do sustento no lixão

Sheila Forato

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Foto: PC de Souza

Nem parece que estamos no século 21 e que, apesar de tantos avanços, algumas pessoas ainda dependam de um trabalho sacrificante para promover o próprio sustento. Esse é o caso de Aline Priscila de Souza, de 26 anos, que há oito anos divide espaço com urubus no aterro sanitário de Coxim.

Apesar da vida de sacrifícios, para junto com o marido – Paulo Cesar Barbosa, de 44 anos – conseguir uma média de R$ 600,00 ao mês, a catadora pode ser considerada uma mulher com “M” maiúsculo.

Batalhadora, Aline levanta todos os dias de madrugada e deixa sua casa, no Nova Coxim, com destino ao local conhecido como lixão, localizado as margens da BR-163. Acompanhada do marido, ela separa alumínio, cobre e plástico para vender. A rotina é puxada, três vezes por semana começa às 4 horas e vai até escurecer, outras três até às 11 horas.

Mesmo tendo uma vida sofrida, a catadora não esconde a doçura transmitida por meio de palavras. O serviço é pesado, a roupa fica suja, as mãos calejadas, mas, por trás de tudo isso existe uma mulher de fibra, que sonha com dias melhores, tanto para ela quanto para as amigas que estão na mesma situação.

Foto: PC de Souza
Foto: PC de Souza

Conforme Aline, no lixão de Coxim trabalham três casais e de vez em quando aparece mais uns perdidos. Mãe de quatro filhos, ela sonha em poder trazê-los para morar em Coxim. São dois meninos e duas meninas, que moram em São Gabriel do Oeste (MS) e Itiquira (MT).

“Tive de abrir mão da convivência com meus filhos, pois não tinha condições de cuidar deles. Até esses dias morava de favor, mas, graças a Deus, conseguimos construir nossa casinha de quatro peças”, se orgulha a catadora de lixo.

Nesse dia 8 de março, quando é comemorado o Dia Internacional da Mulher, Aline disse que seu desejo é que nenhuma mulher tenha que se submeter a essa vida e que as que estão tenham oportunidade de deixá-la. “Sonhar todo mundo sonha”, disparou.

Com pouco estudo, a catadora não tem esperança de deixar essa vida. Ela cursou até a quinta série, depois começaram a vir os filhos e a vida foi complicando. Entre um relacionamento aqui e outro lá que não deram certo, a impressão que se tem é que Aline criou um bloqueio, sendo que os dias melhores ficaram apenas na esfera do sonho.

De uma coisa ela não abre mão, da saúde. Consciente do ambiente insalubre em que vive, a catadora diz que faz exames periódicos, a cada seis meses pela rede pública municipal. Daqui alguns dias ela terá de passar por uma cirurgia e terá de se ausentar do trabalho, o que já está causando preocupação, pois a renda do casal, que já é pequena, deve diminuir.

Foto: PC de Souza

Mulher com “M” maiúsculo

Entre mulheres maquiadas, com cabelos arrumados, roupas e sapatos de grifes, além de perfumes importados, estava Aline na noite desta terça-feira (07), durante sessão de homenagem ao Dia Internacional da Mulher, na câmara de Coxim.

Sem muita vaidade, talvez pela falta de condições financeiras, a catadora foi uma das homenageadas por indicação da vereadora Lúcia da AAVC. Assim como todas as homenageadas, Aline é símbolo da mulher com “M” maiúsculo, que todos os dias lutam por um futuro melhor.

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