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Economia
25/09/2015 13:30:00
Coxim aposta no turismo sustentável para alavancar desenvolvimento econômico
Aos poucos, e com muitas mãos, Coxim vai dando passos conscientes de quem sabe a importância do desenvolvimento, que deve acontecer de forma sustentável para não acabar com o que a natureza levou incontáveis anos para construir.

Sheila Forato

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Rios Coxim e Taquari proporcionam imagens de cartões postais no entardecer (Foto: PC de Souza)

Coxim é um dos principais destinos de Mato Grosso do Sul. A maior cidade da região norte do estado recebe, anualmente, cerca de 30 mil turistas que encontram natureza abundante, cenários para cartões postais e infraestrutura adequada. Desse total, 90% são atraídos pela pesca, conforme o CAT (Centro de Atendimento ao Turista).

Por aqui o turismo caminhava a passos lentos, mas a junção de esforços do poder público e da iniciativa privada tem transformado o setor na principal "indústria" do município. Segundo o gerente de Turismo de Meio Ambiente, Ariel Albrecht, o setor é responsável por 10% do PIB (Produto Interno Bruto) de Coxim, ou seja, movimenta aproximadamente R$ 50 milhões ao ano.

Na avenida Presidente Vargas, que margeia o rio Taquari, estão concentradas as casas de pesca. Por ali se vende de tudo. Se o turista precisa de isca tem, petrechos para pesca nem se fala e se a pescaria não for lá essas coisas ele também encontra peixe para levar, além de uma lembrancinha para a esposa, que muitas vezes fica cuidando dos negócios para o marido se divertir no Pantanal.

Casas de pesca possuem grande estoque de petrechos (Foto: PC de Souza)
Anzóis, varas, molinetes, linhas e uma infinidade de opções (Foto: PC de Souza)

Dono da maior casa de pesca de Coxim, Antônio Miguel de Andrade, de 49 anos, mais conhecido como Messias, trabalha mais de 12 horas por dia cuidando do próprio negócio. Ele diz que não existe fórmula mágica para manter a clientela, basta ter produtos de qualidade, preço bom e atendimento especializado.

Artesanato e lembrancinhas também ficam expostos para turistas presentearem com artigos de Coxim (Foto: PC de Souza)

“Aqui fazemos de tudo pelo turista. Se ele quer um piloteiro a gente arruma, se precisa do barco e do motor também temos. O grupo precisa de uma cozinheira para os dias de pescaria? Fazemos nossos contatos e assim vamos oferecendo o que Coxim tem de melhor, que é a hospitalidade de um povo trabalhador, que luta diariamente para levar o sustento até suas casas”, garantiu o empresário, que está no ramo há 30 anos.

Além dos 1.200 leitos da rede hoteleira, Coxim conta com mais de 400 ranchos e chalanas preparadas para descer o Pantanal com grupos a bordo. De acordo com o CAT, o turismo gera pelo menos três mil empregos diretos e indiretos. Apesar de informal, esse número representa quase 10% da população coxinense, que é de pouco mais de 33 mil habitantes, de acordo com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Mato Grosso é um dos piloteiros experientes de Coxim (Foto: PC de Souza)

Um desses trabalhadores é o Sóstenes Martins, de 48 anos. “Falando pelo nome ninguém vai saber quem é”, brincou o piloteiro, que logo em seguida se apresentou, devidamente, pelo apelido de Mato Grosso, ou Toti, como o cliente preferir. Ao ser questionado há quanto tempo está nesse ramo ele tirou o boné, coçou a cabeça e pensou: “Olha moça, acho que desde que nasci. Pelo que me lembro fui criado nessas águas e conheço esses rios como a palma da minha mão. É daqui que levo o alimento para minha família”, disse o piloteiro.

As belezas naturais saltam aos olhos de quem passa pela cidade, além dos rios Coxim e Taquari, o município conta com diversas atrações, como as cachoeiras das Palmeiras e do Salto, fazendas de turismo rural e a famosa Rota das Monções, que tem atraído grupos europeus para o município. Coxim recebe ao menos 10 grupos ao ano, compostos por quatro pessoas cada, seduzidos pelo turismo de base comunitária.

Cachoeira das Palmeiras é um dos principais passeios oferecidos (Foto: PC de Souza)
Na fazenda Amaralina o turista pode vivenciar a vida no campo (Foto: PC de Souza)

A Rota das Monções é uma expedição fluvial pelos rios de planalto e planície da Bacia Hidrográfica dos rios Coxim e Taquari. Para Albrecht, é mais do que um programa turístico, é um plano de desenvolvimento para a região, pautado em suas reais vocações desenvolvimentistas: a natureza, a cultura e o turismo.

Foto: CAT/Coxim
Foto: CAT/Coxim

Aos 71 anos, Anulino Vieira da Silva é um dos garimpeiros que se mantém na comunidade. É através dele que os turistas conhecem um pouco da charmosa Vila dos Diamantes, que chegou a ser explorada pelos ingleses logo depois da guerra do Paraguai, em 1870. Atualmente, o garimpo não é uma atividade econômica com representatividade, cerca de 10 trabalhadores persistem à procura de pedras preciosas e afirmam que ainda conseguem encontrar. Entretanto, esse número é irrisório se compararmos a década de 80, quando mais de 1,000 garimpeiros exploravam a região de Jauru.

A procura de pedras preciosas, Anulino coleciona histórias na charmosa Vila dos Diamantes (Foto: CAT/Coxim)

O gerente de Turismo explica que o setor ainda precisa de muito investimento, mas, aos poucos, ele está chegando ao município. Para exemplificar Albrecht citou a capacitação da mão-de-obra, por meio de diversos cursos ofertados por parceiros como a Fiems (Federação das Indústrias do Estado de Mato Grosso do Sul) e o Sistema S. Entre esses cursos está o de recepcionista em meio de hospedagem, ministrado pelo Senac (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial).

De aprendiz a mestre, Paulinho contribui com ensino técnico (Foto: PC de Souza)

Um dos responsáveis pelo atendimento no maior hotel de Coxim, Paulo Melo dos Santos, de 35 anos, acredita que profissionalizar a mão-de-obra é essencial para o sucesso dos negócios. Com 12 anos de experiência, ele coleciona certificados de cursos. A experiência é tão grande que Paulinho sempre é contratado para ministrar cursos de recepcionista em meio de hospedagem, oportunidade em que se recicla como profissional.

Não são apenas os hotéis que buscam qualificar a mão-de-obra, bares e restaurantes também estão a procura de profissionais que possam atender a demanda com qualidade. Para esses, o município disponibiliza através de parceiros vários cursos, como o de garçom.

Nos últimos dois anos e meio, Coxim ofereceu à população 2.100 vagas de diversos cursos por meio do Pronatec (Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico) e do Sistema S. Desse total, grande parte atendeu a demanda do setor turístico, conforme o coordenador Gian Marcos Rafael, responsável pelo setor na prefeitura do município.

Ele explica que, além do foco direto, outros também atendem os anseios do setor. Entre os exemplos citados está o curso de panificação, que formou profissionais de destaque em Coxim. A estudante Iracema Arruda Vilalva conquistou uma medalha de prata na modalidade Panificação durante a 43ª edição da WorldSkills Competition, em 2015.

Para o prefeito de Coxim, Aluizio São José (PSB), a qualidade dos cursos oferecidos no município tem feito a diferença na vida daqueles que buscam capacitação por meio da educação técnica. “Nossa medalhista é um dos exemplos, mas podemos citar vários, de pessoas sem perspectiva que decidiram investir nos estudos e ganharam espaço no mercado de trabalho”, enfatizou.

Nem só de ações por parte do poder público vive o turismo de Coxim. A iniciativa privada também tem dado sua contribuição, assim como algumas instituições. Neste mês, as lojas Maçônicas realizaram o 4º Campeonato de Pesca, que atraiu pescadores de vários estados brasileiros e conta com a participação maciça de coxinenses.

Campeonato de Pesca reúne dezenas de embarcações todos os anos (Foto: Eduardo Bampi)

A organização contabilizou quase 100 embarcações na quarta edição. Cada barco largou com três participantes em busca de belos exemplares de peixes nas águas do rio Taquari. Entretanto, o envolvimento passou de 1.000 pessoas.

“O marido vem participar com o filho, você acha que a esposa vai ficar em casa? Não, ela também vem para Coxim. É um evento da família, que busca a interação dos amantes do esporte”, definiu o empresário Wiliam Grandizzolli, um dos organizadores.

Ele enfatiza que o campeonato fomenta o turismo e aquece a economia local. Wiliam estima que cada participante gaste entre R$ 700,00 e R$ 1.000,00. Geralmente os participantes chegam um dia antes e vão embora um depois, permanecendo em Coxim por três dias.

Trilheiros deixam entre R$ 1,2 e R$ 1,4 milhão no município (Foto: PC de Souza)

Outro bom exemplo vem do empresário Aristol Cotini, que movimenta Coxim nos meses de fevereiro com a Trilha Pantanal Coxim, que em sua quinta edição, em 2016, deve atrair 200 jipeiros para o município, atraindo uma população flutuante de até 500 pessoas entre 10 e 20 dias.

Ele conta que a trilha tem duração de cinco dias, mas há quem chegue uma semana antes e fica uma depois. No próximo ano estão confirmados trilheiros de nove estados brasileiros, mas o evento já rompeu a fronteira da América Latina, pois participantes paraguaios também já confirmaram presença.

O evento que nasceu pequeno tomou uma dimensão jamais esperada. Aristol afirma que é um esporte caro, cada trilheiro gasta de R$ 6 a R$ 7 mil em Coxim, deixando de R$ 1,2 a 1,4 milhão no município. “Eles gastam em hotéis, restaurantes, postos de combustíveis e no comércio de forma geral, até mesmo as farmácias lucram com o evento”, afirma o empresário.

Aos poucos, e com muitas mãos, Coxim vai escrevendo sua história centenária, protegida pelo Cristo Redentor do Pantanal. Dando passos conscientes de quem sabe a importância do desenvolvimento, que deve acontecer de forma sustentável para não acabar com o que a natureza levou incontáveis anos para construir.

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